segunda-feira, 23 de maio de 2011

Parafraseando José Afonso, o nosso Zeca, "Já minha avó me dizia..."



 


"Quando vieram dizer á pobre mãe
Que seu filho tinha morrido lá na guerra
Ela ajoelhou a tremer sentindo bem
O desgosto mais dorido que há na terra

Trouxeram-lhe a cruz de guerra que seu filho
Como valente soldado merecera
E sobre ela a mãe poisou um olhar sem brilho
Recordando o filho amado que perdera

A cruz de guerra pegou como quem sente
Um reconforto divino que sonhara
Com ternura a colocou serenamente
No berço em que pequenino o embalara

Pobre mãe, santa do céu em pleno inferno
Pôs-se a embalar o berço e a dizer
Dorme dorme filho meu o sono eterno
Como eterna é a minha dôr de te perder

E a pobre mãe rematou neste contraste
Dorme dorme o sono eterno filho meu
Por causa da cruz de guerra que ganhaste
Quantas mães estão chorando como eu."
A medalha da cruz de guerra é por via deste poema, que descobri recentemente que também é cantado num fado de Lisboa, parte do meu imaginário de infância. Posso dizer sem qualquer falta de rigor que foi a minha velha avó de 89 anos que com este poema me incutiu a vontade de descobrir o que era isto afinal da cruz de guerra...

imagem: As mães, as viúvas, as filhas, acompanham os últimos passos dos que tombaram na Flandres e em África. Quadro de Sousa Lopes patente no Museu de Artilharia de Lisboa

O porquê...

Sábado 21 de Maio, manhã. Uma das muitas minhas idas aos pregões, às cores, aos cheiros, às gentes da feira da ladra... Já lá foram? Estava uma manhã de sol fantástica, parecia uma daquelas manhãs da década de 80 ou 90, muita gente, muito para vender, muitos compradores, pouco ou nada no bolso para gastar.
Os meus gostos por militaria levam-me sempre a ter mais atenção para estes artigos. Ía eu a passar numa banquinha humilde e velha de um jovem e barulhento homem, e deparo-me com uma cruz de guerra de 1946; daquelas que dizem terem sido entregues aos Viriatos, e foram certamente testemunho de heroicidade na guerra do Ultramar,  num estado descuidado, mas com uma fita quase intacta, com as cores total e invejavelmente preservadas e a um preço que depois de negociado foi como a cereja (para quem gosta delas) no topo do bolo.
O metal precisava de uma franca e cuidada limpeza, a fita de uma grande lavagem e de um ou outro ponto para a unir.
Esta é a minha 2ª cruz de guerra, sinto que será a 2ªde muitas.
Este blogue surge da necessidade de ter um suporte on-line onde a medalha da cruz de guerra da Republica Portuguesa seja o objecto de estudo principal.