terça-feira, 22 de maio de 2012

Um ano, Uma peça nova.



Cumpre-se hoje um ano sobre o lançamento deste Blogue.

Devo agradecer antes de mais, aos leitores, aos amigos, aos curiosos, aos faleristas, aos coleccionadores, aos amadores, aos que cá vêm regularmente e aos que cá vêm por engano.
Este é um projecto que veio para ficar.  Falar sobre um tema que se esgota, sem poder variar muito, em Portugal, para portugueses, sobre história, sobre faleristica, é efectivamente um grande tiro no escuro, mas que, feito o balanço deste primeiro ano, foi certeiramente disparado.

Milhar e meio de leitores, cinco seguidores, numerosos comentários técnicos e de alento, numerosos contactos privados para esclarecimento de dúvidas ou compromissos vários, alguns contactos com o estrangeiro, várias publicações nos tops de pesquisa dos principais motores de busca, enfim, posso dizer que até agora, tenho cumprido com o que me comprometi desde o meu primeiro post, e relembro:" Este blogue surge da necessidade de ter um suporte on-line onde a medalha da cruz de guerra da Republica Portuguesa seja o objecto de estudo principal."

A muito do que me propus ainda não dei resposta, e acredito que a muito do que se possa esperar deste Blogue muitas respostas tenho que dar. Farei sempre o meu melhor, com a periodicidade que me for possivél, embuido da certeza e do espírito que cada publicação, cada leitura, cada pesquisa, cada contacto, cada imagem, é um claro contributo para a partilha e ensino da nossa História.

Feito os agradecimentos e o balanço deste nosso primeiro ano, fica no seguimento do post anterior uma nova peça da minha colecção;





Esta peça é-me, como todas as outras, muito querida. Talvez com uma pequena diferença, é que esta como poucas outras pode rapidamente contar-me muito sobre o agraciado. Prometo uma pesquisa séria e dar aqui nota sobre o que descobrir.

No post anterior referi, transcrevendo da legislação, que as medalhas atribuídas por feitos em campanha eram ornamentadas na fivela pela letra "C", significada naturalmente da palavra Campanha, contudo mais tarde na década de 20, em Diploma ainda a encontrar, a letra "C" foi substituída por uma palma doirada, indicando assim que aquela condecoração foi entregue por feitos em Campanha.

(Sei agora, tratar-se do Decreto n.º 11.649, de 7 de Maio de 1926, que às portas do Golpe do 28 de Maio e do inicio da Revolução Nacional, decretou atribuir-se as palmas às ordens e medalhas atribuídas em feitos de campanha contra inimigos da Pátria, não suprimindo os "C", mas relegando-os para identificar as ordens e medalhas atribuídas em campanhas internas, nas revoltas, revoluções, golpes e contra golpes na defesa da Republica ou contra a Republica.)

O conjunto acima é em tudo sublime. Fivelas e barra em prata patinada de negro, possivelmente para não reflectir o Sol em Uniforme de Campanha, fitas em bom estado de preservação de cor e textura, e palmas incrustadas nas fivelas.
É também um conjunto de grande valor militar, mostrando as duas maiores condecorações à época (O T.E./ M.D.C.) (1920), sendo mais do que certo terem pertencido a um grande e valoroso português que se arriscou na Flandres ou em África, pela Republica e por todos nós.

Da Esquerda para a direita; Ordem Militar da Torre e Espada com Palma (impossivél destrinçar o grau dada a ausência de roseta), Medalha da Cruz de Guerra de 4ª Classe, duas Medalhas Militares de Bons Serviços com Palma. (Relativamente à Ordem da Torre e Espada, sei agora que, dada a ausência de roseta, é altamente provável tratar-se do grau de Cavaleiro.)

É de notar um estranho nivelamento inferior das fitas, algo nada comum à época, mas que se justifica com a existência mais do que provável de uma segunda barra, para pelo menos conter a Medalha Inter-Aliada da Vitória.


O meu grande e publico agradecimento a um amigo que fez questão de me ajudar no encontro dos decretos, e no esclarecimento da identificação da O.T.E.

A hierárquia e ordem de precedência da medalha militar, a Cruz de Guerra e a 1ª Republica 1919



A 8 de Novembro de 1919, já posteriormente ao cessar do troar dos canhões na Flandres e em Àfrica, sobre proposta do Ministro da Guerra, é promulgada a regulamentação do uso das ordens e medalhas militares Portuguesas.
Este meu artigo vem também preencher uma lacuna na informação disponível na web sobre faleristica nacional e cumprir uma velha promessa minha de vos trazer e dar a conhecer esta matéria.
Nada melhor, para o fazer, do que transcrever directamente da legislação à data, o que aqui quero deixar.
Ilustrarei com a ajuda do Paint o transcrito da Legislação, dando assim a conhecer graficamente o que me proponho aqui a mostrar.


"Decreto nº 6:205, 8 de Novembro de 1919

Regulamento das Ordens Militares Portuguesas. Ordem do Exército nº23, 1ª série.

Capitulo I (...) Capitulo V (...)

Capitulo VI: Disposição Comum às Diferentes Ordens;

...
Artigo 32º. As condecorações Portuguesas são colocadas em primeiro lugar, da direita para a esquerda, no lado esquerdo do peito, pela ordem da seguinte precedencia: Torre e Espada, Cruz de Guerra, Cristo, Avis, S. Tiago, Medalha Militar (valor militar, bons serviços, comportamento exemplar) e Medalha da Vitória. A seguir as ordens e condecorações estrangeiras.

#.1º As medalhas militares conferidas por serviços de campanha - letra C - têm precedência sobre a Ordem de Cristo.

#.2º As medalhas comemorativas das campanhas do exército português, as do mérito, filantropia e generosidade e a de bons serviços no ultramar, usam-se do lado direito do peito, da esquerda para a direita pela ordem acima mensionada. As cruzes e medalhas da Cruz Vermelha colocar-se hão após estas.

#.3º Quando os distinivos das condecorações não se contenhão numa só linha, a ordem de preferência começará pela linha supeiror.

#.4º Só é permitido o uso das fitas das condecorações sem fivela no uniforme de camapnha.

#.5º Aos oficiais e praças é permitido o uso das insignias da Torre e Espada, Cruz de Guerra e medalha de Valor Militar, em passeio com qualquer uniforme.

... "



Este Decreto é uma verdadeira revolução, não só pelo afirmar da reintrodução das antigas ordens militares banidas em 1910, não só pela regulamentação do uso das Ordens e das Medalhas, mas também pela introdução das condecorações colectivas de unidades, até então só entregues a Praças citiadas ou Cidades/Vilas heróicas. Mas isto das condecorações colectivas, ficará para outra altura.

Podemos então ver a importância que a Medalha da Cruz de Guerra assume neste Decreto e durante todo o momento histórico da 1ª Republica.
Se por exemplo em França a Croix de Guerre vêm depois da Medaille Militaire e da sempre primeira Legion d´Honor, por cá a Medalha da Cruz de Guerra, contrariamente ao que acontece hoje e desde 1946, assumia lugar de destaque logo a seguir ao mais alto galardão a que um Português pode aspirar, a bem amada e querida Ordem da Torre e Espada.


Este artigo foi revisto a 09/01/2013, alterando a imagem que o acompanha com a finalidade de uniformizar via paint todas as imagens deste tipo que avante se julguem pertinentes partilhar neste Blog.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

As primeiras Medalhas da Cruz de Guerra da Guerra do Ultramar




Falar da Cruz de Guerra é falar de Portugueses, da sua História, das suas histórias, e em particular de dois momentos, da Grande Guerra de 14/18, e da Guerra do Ultramar.

Se a primeira foi um misto de trauma e dificuldades para a sociedade civil, mas um grande factor histórico e politico de regozijo para a jovem Republica, a segunda, ainda é, e continuará sendo durante largos anos uma ferida profunda, bem aberta e tristemente ignorada ou esquecida no meio da sociedade Portuguesa.
A Guerra Colonial afirma-se como o ultimo grande momento de mostra de heroicidade para a sociedade civil e militar Portuguesa, que entre 1960 e 1975 viveu os últimos momentos do Império, e os primeiros momentos de Independência dos Povos Africanos.

A 28 de Janeiro de 1962 na Vila de Damba, Província do Uige, Norte de Angola na Fronteira com o Congo, são entregues em 40 anos as primeiras Medalhas da Cruz de Guerra, que se destinavam a galardoar a heroicidade do primeiro ano de guerra, numa cerimónia que contou com as mais altas individualidades Provinciais como o Governador Geral Venâncio Deslandes, General Holbeche Fino, o Brigadeiro Luís Deslandes, entre outras.

Nesta cerimónia foram entregues seis Cruzes de Guerra, todas de 4ª classe e todas à Companhia de Caçadores 144, subordinada ao Batalhão de Caçadores 141 do Regimento de Infantaria 15, pelos feitos levados a cabo a 11 de Setembro de 1961 por homens que debaixo de fogo se lançaram na perseguição do inimigo ao atravessarem o rio Coji conseguindo mostrar grande espírito do sentido do dever e do sentido Pátrio, tendo terminado a sua missão só quando se findaram as munições, já muito depois do comandante do grupo, o alferes que indicarei a seguir, se encontrar gravemente ferido.

Os nomes;

-António João Monteiro Madeira, soldado nº 287/61; Medalha da Cruz de Guerra de 4ª Classe.
-António Júlio Branquinho, soldado nº 205/61; Medalha da Cruz de Guerra de 4ª Classe.
-Apolinio Catreira da Cruz, soldado nº 275/61 ; Medalha da Cruz de Guerra de 4ª Classe.
-Armindo Pereira Francisco, soldado nº 284/61 ; Medalha da Cruz de Guerra de 4ª Classe.
-José Manuel Gonçalves Dias, Furriel Miliciano ; Medalha da Cruz de Guerra de 4ª Classe.
-Leonildo Cirilo Monteiro, Alferes Miliciano ; Medalha da Cruz de Guerra de 4ª Classe.

Resta-me destacar uma frase do comandante da companhia de caçadores 144, o Tenente-Coronel Pereira de Carvalho, proferida no inicio da cerimónia de condecoração; "Todos sabem dar a vida pela Pátria, onde e quando a Pátria precisa!".

Ao topo uma insígnia da Cruz de Guerra de 4ª Classe, de 1946/1949, semelhante às que os nossos bravos receberam.
Na imagem em baixo, o General Governador-Geral Venâncio Deslandes condecora os militares supra-referidos na vila de Damba a 28/01/1962.

No dia 28 de Janeiro deste ano, passaram cinco décadas, 50 anos, sobre este momento importante da história e da phaleristica portuguesa.