sábado, 17 de maio de 2014

Capitão de Mar e Guerra Quirino da Fonseca, Herói da Cruz de Guerra






Nascido na cidade do Funchal, a 4 de Junho de 1868, cedo vem para Lisboa tirar o curso no Instituto Industrial e Comercial, tendo terminado os estudos em 1888, ano em que ingressa na Escola Naval.
Em 1893, fruto das disputas territoriais em África, integra a Divisão Naval do Atlântico Sul, onde presta serviço como Imediato do Transporte “Salvador Correia” e secretário do Governador do Distrito do Congo em Angola, chegando em 1897 a comandante da Canhoneira Cacongo. Depois de ter assumido por algum tempo o cargo de Ajudante-de-Campo do Governador-Geral da Província, em 1901 volta ao mar, desta feita ao comando da Corveta Bartolomeu Dias e depois da Canhoneira Liberal.

Em 1915, já na Metrópole, é Oficial-Imediato do mítico Cruzador Adamastor, que zarpa para Moçambique, onde depois da declaração formal de Guerra pela Alemanha a Portugal em 1916, assume vital importância no aprisionamento dos navios Alemães em portos da Província de Moçambique, acabando por entrar em combate na Foz do Rovuma, rio que tanto sacrifício e heroicidade trouxe aos militares Portugueses.

É aqui, no Rovuma, que nos dias 21, 23 e 27 de Maio, à frente de uma força desembarcada, pela “Decisão, coragem, espirito de sacrifício que mostrou durante as operações dos dias supra referidos” recebe a Medalha da Cruz de Guerra de 1ª Classe. Tinha então 48 anos de idade.

Depois de um breve retorno a Lisboa onde presta serviço na Direcção Geral de Marinha,  volta a Moçambique em Maio de 1918 como voluntário, no vice-comando do Batalhão Expedicionário de Marinha, unidade que muito se distingue na fase final da Grande Guerra na referida Província.

Terminada a Guerra, volta a Portugal onde exerce várias funções administrativas, sendo novamente posto ao Comando do Cruzador Republica, afecto à Divisão Naval Colonial, fazendo o périplo pelas províncias Africanas entre 1924 e 1925.

Notável intelectual, e homem de cultura, é nomeado em 1937 Director do Museu Naval e da Biblioteca Central da Armada.
Historiador, Arqueólogo, Filologista e escritor do período de ouro da Armada Portuguesa, os Seculos XV e XVI, distinguir-se-á ao longo da sua vida tanto nas armas como nas letras, mostrando que para a construção da identidade Nacional, é por vezes tão útil a espada como a pena.
Entre as muitas condecorações nacionais que recebeu, destaca-se mais uma de 1ª Classe, as Palmas Académicas de 1ª Classe de Altos Estudos pela Academia de Ciências de Lisboa.

Virá a falecer em Lisboa, capital de um Império que tão bem conheceu, defendeu e estudou, a 6 de Junho de 1939, dois dias depois de ter completado 71 anos.


É por inteiro merecimento, Patrono do Curso da Escola Naval iniciado em finais de 2013.



Fotografia e dados biográficos retirados da Revista da Armada.


quarta-feira, 5 de março de 2014

Conjunto Angola 1969-70-71; Medalha da Cruz de Guerra de 2ª Classe






Foram milhares aqueles que abdicando da sua juventude, partiram para Angola ao serviço da Pátria nos anos de 1969, 1970 e 1971. Destes, a maioria foi empregue no Norte da Província Ultramarina, onde a campanha e a peleja eram de maior rigor. Muitos foram também os que por feitos de Heroicidade e Humanidade mereceram as mais altas distinções militares, passando naturalmente pelas centenas de Medalhas da Cruz de Guerra que por lá se mereceram.

Ainda hoje na cabeça de muitos Portugueses soam como trovões os nomes de Santo António do Zaire; Noqui; Cuimba; Maquela; Luvaca; São Salvador; Ambriz; Carmona; Quitexe; Negaje; Cangola; Camabatela; Quimbele; Zala; Songo; Mucaba e claro, Nambuangongo!

Depois de um final de semana onde Veteranos do Ultramar reclamaram junto do “Governo” maior dignidade e respeito no tratamento que lhes é devido e merecido, decidi trazer aqui um conjunto de três condecorações outorgadas a um desses valentes que por Angola nos anos de 1969/71 bateu picadas e abriu trilhos.

Dos primeiros conjuntos relacionados com o Ultramar que adquiri, é mais um que muito me agrada. (Ainda estou e estará o leitor mais atento, para ver qual dos conjuntos na minha colecção ou fora dela que ostentando uma MCG, não me agradará!)


Conjunto simples composto por três condecorações todas do modelo regulamentar de 1949, e todas obedecendo à legislação em vigor à época com excepção da MCG.



E é por ela que começamos; Medalha da Cruz de Guerra de 1949, no seu cunho mais belo e pesado, tem uma fita raiada de verde-claro lima, tendo ao centro a miniatura de segunda-classe em metal doirado.
A insígnia, contrariamente ao disposto na lei e de acordo com o metal da miniatura de classe, não é doirada mas sim cunhada em cobre e patinada de castanho.
Em minha opinião, trata-se de mais uma “argolada” cometida pelos fabricantes de condecorações que por sua iniciativa ou pedido expresso das autoridades ignorando a legislação, faziam de tudo um pouco para reduzirem despesas de fabrico nos últimos anos da Guerra em África.
Poderá também dar-se o caso da condecoração ter sido atribuída depois de Dezembro de 1971 já com nova legislação em vigor, que repunha o bronze castanho como metal de insígnia para todas as quatro classes, mantendo a venera de 49, uma vez que o verso do desenho se mantinha inalterado.

Mas tendo mais a acreditar na primeira hipótese, uma vez que é muito comum vermos este cunho da MCG quase sempre patinado de castanho em qualquer das quatro classes, muito antes de 1971.


A segunda Medalha é a Medalha Militar na sua classe de Comportamento Exemplar; Cunhada também em cobre patinado de castanho, apresenta uma muito ligeira e pontual oxidação no interior da esfera armilar.
Carrega fivela aberta ou vazada, cunhada no mesmo metal e patinada da mesma cor.


Por último a Medalha das Campanhas do Exército Português; Oficialmente denominada pelo regulamento de 1949 como: Medalha das Expedições e Campanhas das Tropas Portuguesas, é cunhada também em cobre mas desta vez banhado a Prata.
Carrega fivela fechada com a legenda : Angola 1969-70-71.





Deste Blog parte para TODOS os Veteranos da Guerra do Ultramar, particularmente aos que maior privação passam, um forte sentimento de solidariedade, amizade e profunda admiração.

Dignidade e Honra aos Nossos Veteranos! Viva Portugal!

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

General Piloto-Aviador Luis Araújo; Herói da Cruz de Guerra






Neste dia 6 de Fevereiro, cessou funções o Sr. General Piloto-Aviador Luís Evangelista Esteves de Araújo, Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas.
Nascido na cidade do Porto aos 25 dias do segundo mês do ano de 1949, ingressou na Academia Militar em 1966 para concluir o curso de Aeronáutica em 1971.
 Entre Outubro de 1972 e o mesmo mês de 1974 sobrevoou durante 1000 Horas o Norte de Moçambique ao comando do mítico Alouette III, tendo feito nele toda a sua comissão de serviço no Ultramar.
 
Uma carreira exemplar e longa que culmina agora depois de em Fevereiro de 2011 ter assumido a chefia do EMGFA.

Do seu conjunto de condecorações destaca-se naturalmente a Medalha da Cruz de Guerra de 2ª classe, que lhe foi atribuída em 1977, quando era ainda um jovem Tenente Piloto-Aviador.

É precisamente por ser um dos muitos Heróis da Cruz de Guerra, que faz sentido neste espaço dedicar ao Sr. General um a palavra de apreço e reconhecimento pelos serviços que prestou à pátria no Ultramar e na chefia do EMGFA.

Por último observar que são cada vez menos os militares no activo, condecorados com uma das quatro Classes da Cruz de Guerra, e poder ter tido um General CEMGFA que a ostentava orgulhosamente foi para o autor desta página um gosto. Não será por certo uma situação que se venha a repetir nas próximas décadas. 

Fotos: Presidência da Republica; Força Aérea Portuguesa.











sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Condecorações Colectivas (parte 2ª)







Em 1943 dá-se uma reestruturação das unidades militares do Exército, particularmente nas suas nomenclaturas e honrarias.
A portaria 10:480 lista de forma integral todas as unidades do Exército, todas as suas legendas e títulos de batalha (exemplo Buçaco 1810, França 1917/1918) e naturalmente as condecorações conferidas a todas as unidades, com particular destaque para a Medalha da Cruz de Guerra de 1ª Classe, das quais aqui darei nota individual.*
Esta portaria tem significado valor histórico porque nos dá a conhecer a totalidade(?) das unidades condecoradas com a MCG de 1917.


* Darei nota apenas das Unidades condecoradas com a MCG e do numero de MCG que cada unidade recebeu, não fazendo menção de outras condecorações conferidas ao estandarte das mesmas.
Todas as MCG conferidas a Estandarte são de 1ª classe, conforme legislação.

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Portaria 10:480 que “Designa as unidades da actual organização do Exército que devem ser consideradas legitimas herdeiras das tradições e da história militar dos corpos de tropas das organizações anteriores.” publicada em Diário do Governo de dia Sábado 4 de Setembro de 1943.

Ponto 3;

Regimento de Infantaria Nº3 - Duas (2) Medalhas da Cruz de Guerra
Regimento de Infantaria Nº8 – Três (3) Medalhas da Cruz de Guerra
Regimento de Infantaria Nº12 – Uma (1) Medalha da Cruz de Guerra
Regimento de Infantaria Nº13 – Uma (1) Medalha da Cruz de Guerra
Regimento de Infantaria Nº14 - Uma (1) Medalha da Cruz de Guerra

Batalhão de Caçadores Nº1 - Uma (1) Medalha da Cruz de Guerra
Batalhão de Caçadores Nº2 - Uma (1) Medalha da Cruz de Guerra
Batalhão de Caçadores Nº3 - Duas (2) Medalhas da Cruz de Guerra
Batalhão de Caçadores Nº7 - Uma (1) Medalha da Cruz de Guerra
Batalhão de Caçadores Nº9 - Uma (1) Medalha da Cruz de Guerra

Batalhão de Metralhadoras Nº1 - Uma (1) Medalha da Cruz de Guerra
Batalhão de Metralhadoras Nº2 - Uma (1) Medalha da Cruz de Guerra
Batalhão de Metralhadoras Nº3 - Uma (1) Medalha da Cruz de Guerra

Regimento de Artilharia Ligeira Nº1- Duas (2) Medalhas da Cruz de Guerra
Regimento de Artilharia Ligeira Nº2- Uma (1) Medalha da Cruz de Guerra
Regimento de Artilharia Ligeira (Montanha) Nº5 - Uma (1) Medalha da Cruz de Guerra

Grupo Independente de Artilharia de Montanha – Duas (2) Medalhas da Cruz de Guerra
Grupo de Artilharia contra Aeronaves – Uma (1) Medalha da Cruz de Guerra

Regimento de Artilharia Pesada Nº 1 - Uma (1) Medalha da Cruz de Guerra
Regimento de Artilharia Pesada Nº2 – Uma (1) Medalha da Cruz de Guerra

Regimento de Cavalaria Nº4 – Uma (1) Medalha da Cruz de Guerra
Regimento de Cavalaria Nº6 – Duas (2) Medalhas da Cruz de Guerra

Regimento de Engenharia Nº1 - Uma (1) Medalha da Cruz de Guerra
Regimento de Engenharia Nº2 - Uma (1) Medalha da Cruz de Guerra

Comando Geral da Aeronáutica – Uma (1) Medalha da Cruz de Guerra*


*”Ponto 4- O comando Geral da Aeronáutica terá direito a Bandeira privativa, que ostentará a gravata da Medalha da Cruz de Guerra de 1ª Classe, concedida à esquadrilha inicial de aviação por feitos distintos em combate verificados em França durante a Guerra de 14/18.”

Em 1943 o Exército Português detinha na sua orgânica vinte e cinco (25) unidades condecoradas com uma ou mais Medalhas da Cruz de Guerra.

Em cima: Cerimónia não identificada do RI 13, onde é bem visível o seu Estandarte e o seu Laço da Medalha da Cruz de Guerra de 1ª Classe; década de 40/50; Livro do RI 13.