quinta-feira, 4 de outubro de 2012
A República do avesso...
Com o titulo que se apresenta este texto, bem que podia ser um de comentário politico e critico ao estado a que chegou a Republica, essa nobre conquista da história e do povo Português.
Mas não, neste 5 de Outubro, trago mais uma das minhas peças de 1917, com uma curiosa particularidade, acompanhada de mais um pequeno apontamento histórico, onde o titulo é totalmente faleristico.
Sendo a Republica muito jovem em 1917, de estranhar seria se todos os militares ao seu serviço fossem totais simpatizantes e apoiantes do novo regime.
Patriotas e bravos, como todos os bons filhos de Portugal, certamente que o eram. Republicanos? Essa era uma outra história...
Muitos monárquicos convictos, como comprovam as revoltas de 1919, e muitos Republicanos descontentes como mostra todo o período da 1ª Republica, perfilavam no Exército e na Armada.
O 28 de Maio de 1926, movimento que instaurou a Ditadura Nacional, foi o culminar de uma parte conturbada da nossa história.
A peça que aqui deixo, é interessante em primeiro lugar por suportar duas classes; e em segundo, e daqui o titulo do post, ter a Efígie da Republica voltada para trás.
Durante a Republica não era raro vermos prestigiados oficiais, entre os quais o líder do levantamento militar de Braga, fazendo uso dos símbolos monárquicos então abolidos, nas insígnias faleristicas que ostentavam.
Com o 28 de Maio e os momentos históricos que lhe seguiram, há um progressivo afastar da simbologia Republicana da vida publica militar e civil.
Há aliás um vídeo disponível na cinemateca digital de uma parada militar em Lisboa, coroando o movimento militar de Mendes Cabeças e Costa Gomes, a pretexto da comemoração do fim da Grande Guerra, onde da tribuna de honra pende uma Medalha da Cruz de Guerra de grandes dimensões com o escudo nacional voltado para a frente.
(Não farei uso dos termos "anverso" e "reverso" para não confundir a descrição)
Esta Cruz de Guerra terá pertencido muito provavelmente a alguém que participou no movimento supra-referido, ou que não simpatizando com a Republica, decidiu literalmente, voltar-lhe a cara.
Introduz também, algo que algures por aqui já tinha escrito, a existência de várias classes na mesma fita.
Muito ao arrepio da Croix de Guerre Francesa que ostentava várias citações na mesma fita, a Cruz de Guerra Portuguesa de 1917 poderia, como aqui faz, mostrar mais do que uma classe por fita, em vez de, como mais tarde se legislou, a Cruz repetir-se tantas quantas as classes que um condecorado possa receber.
Posto isto, podemos identificar aqui a 2ª e 4ª Classe, miniatura de folha simples sem relevo, estando aqui numa fita de época em muito bom estado de conservação, apontando apenas como ponto fraco, uma patina clara e desgastada, mas ainda assim uniforme e sem ponta de corrosão.
Terá certamente cumprido bem o seu papel glorificador ao seu merecedor, que em África, no Mar ou na Flandres ao serviço do CEP ou do CAPI, recebeu tão nobre galardão por duas vezes.
Este post surge de uma conversa que tive há dias com um bom amigo, que me fez saber que na sua colecção tem também uma destas Cruzes de Guerra em que a Republica foi "substituída" pela esfera armilar.
Conhecemos várias fotos da época (pós 28 de Maio), em que a prática de as voltar se generalizou. E conhecemos ainda alguns, não muitos, mas suficientes espólios particulares bem identificados em que podemos até encontrar duas medalhas da Cruz de Guerra, em que numa a Republica é o Anverso e noutra a esfera armilar é o Anverso, indicando claramente a necessidade de as alternar consoante o momento politico.
Clique aqui para ver o video supra referido na cinemateca.
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